Este domingo, começámos a viver o primeiro dia de um tempo novo. Mesmo que, com lucidez, o consideremos difícil e incerto, oferece uma réstia de luz. E precisamos de toda a luz possível.
As primeiras vacinas contra a covid-19 começam a ser ministradas na União Europeia este domingo e, se o momento não basta por si só para se respirar de alívio, não deixa de ter um significado histórico que as presentes gerações guardarão na memória. Não sendo o fim da tormenta, poderá ser o princípio do fim. Não sendo um antídoto imediato para os contágios e os efeitos devastadores do vírus, é pelo menos um sinal de esperança que torna o futuro mais suportável. Este domingo, começámos a viver o primeiro dia de um tempo novo. Mesmo que, com lucidez, o consideremos difícil e incerto, oferece uma réstia de luz. E precisamos de toda a luz possível. Vale por isso a pena reflectir o momento que nos faz lembrar O Primeiro Dia, de Sérgio Godinho.
E nessa indagação aparece em primeiro lugar a grande vitória da ciência. António Barreto escreveu-o melhor do que ninguém: “O que uns milhares de cientistas fizeram, em menos de 12 meses, sob enorme pressão humanitária, merece o aplauso universal e é credor de admiração sem reservas”. É compensador pensar igualmente que a corrida pela vacina é uma vitória “da inovação europeia”, como assinalou Ursula von der Leyen. Foi uma empresa alemã, embora aliada a um gigante norte-americano, que chegou primeiro à vacina e, do ponto de vista simbólico, essa façanha é prova de vida de um continente tantas vezes apontado como um espaço de irrelevância ou de anomia. Não é. E o facto de a BioNtech ser dirigida por alemães de origem turca só pode alimentar o sonho dos que defendem uma União plural, diversa e aberta ao mundo. (continuara ler)
Manuel Carvalho, Editorial do Público
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