Perante a lassidão social, à esquerda e à direita têm-se registado reações identitárias em resultado da necessidade pessoal de pertença ao grupo, à tribo, recuperando algum sentido de pertença. O efeito passa, inevitavelmente, pela criação de uma arena de confronto e conflito. Se o espaço comum de valores foi destruído, cada grupo passa a impor uma nova moralidade que é apresentada como a sua verdade. E a política transforma-se numa arena de luta pela verdade em que cada acontecimento é interpretado de modo diferente e irredutível, sem possibilidade de compromisso. (...)
Não é, por isso, surpreendente que os nossos tempos sejam marcados por expressões como “fake news” ou “desinformação” – como se a mentira política tivesse sido criada em 2016. A política foi sempre um jogo permanente de sombras, mas hoje as possibilidades de entendimento coletivo foram desfeitas. E como as sociedades se encontram profundamente divididas e deixaram de partilhar um terreno comum, a disputa pela verdade passou a refletir essas divisões: perante o mesmo facto surgem diferentes interpretações e leituras sem que nenhuma se consiga impor. O consenso tornou-se, assim, uma impossibilidade e a sensação de desconfiança e caos generalizou-se. (texto na íntegra)
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