A República resvala para o fim de ciclo. A política e os políticos exibem a histeria dos movimentos automáticos para se recolocarem para o novo ciclo. Como se fosse assim tão simples a mudança de ciclo. Este automatismo é explicado pela rotina de um rotativismo em que o ciclo muda sem mudar o ciclo. Muda o cenário e os figurinos, mas o enredo repete-se. Só que desta vez depois de Abril existem novas personagens que não querem ser figurantes.
O Presidente da República e o Primeiro-Ministro itinerante são personagens do velho ciclo. Fica o conflito cansado e cínico entre cúmplices desavindos em torno de uma intriga de salão que abala o Regime e a República.O Presidente tem o ar cansado do criador de factos políticos que esgotou o reportório. O Presidente da República limita-se a imitar a imagem que tem do Presidente da República que foi. Para Belém o futuro é uma revisitação do passado. Os portugueses não esperem nada porque já nada há a esperar. Esperar apenas que o mandato termine para mudar o ciclo. Ainda há tempo e paciência para selfies.
O Primeiro-Ministro itinerante inaugura e anuncia reformas que sempre se negou a fazer. O Primeiro-Ministro fictício de um País imaginário tem o ar irresponsável e enérgico de quem foi vítima da sua própria inépcia e passeia a sua vitimização para português ver. Desdobra-se o Chefe do Executivo em declarações politicamente amuadas para disfarçar a incompetência estrutural que está na base da sua carreira política – o sobrevivente que esteve em todos os ciclos vê-se agora excluído do próximo ciclo político. Depois de tanto sucesso e ginástica de aparelho, todas as carreiras políticas acabam em fracasso.
Talvez seja possível fazer o esboço de uma hipótese de balanço sobre o estado da República em pleno vazio institucional – a política é um relatório de intransigências que diminuem o País.+.
(excertos do texto de Carlos Marques de Almeida, ECO)
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