Apropósito dos paupérrimos debates desta campanha e que os canais de televisão venderam como produto acabado da indigência a que chegámos, vale a pena lembrar um livrinho, hoje esquecido, e que a Gradiva publicou no já longínquo ano de 1995 (quando a geração dos actuais políticos - a minha, diga-se - andaria já nas respectivas jotas a fazer pela vida, sendo que alguns deles, em 95, nem dez anos teriam…). O livrinho é este:
A Televisão: Um Perigo para a Democracia, de Karl Popper. “Ladra do tempo, criada infiel”, eis uma das muitas imagens a que o filósofo recorre para descrever a “Medusa do nosso tempo”, imagem de Vladimir Porche, que, em 1955, já adivinhava os nefastos efeitos da caixa mágica sobre a nova humanidade - a “humanidade sentada”. (António Carlos Cortez, DN)
(...) Num certo sector do centro-esquerda há quem pense que Pedro Nuno é o homem da “ação” e da decisão. Ricardo Araújo Pereira, caricaturando-o, viu bem o modo como, consciente ou inconscientemente, este, como outros políticos de agora, pensam a política em função do onde, quando e como pode a imagem vender mais. Com que gola-alta se pode vencer as gravatas de seda. É, de facto, a televisão que, “trabalhando conteúdos”, manipula e influencia o voto popular. (...)
[A] obediência cega à televisão impede que os responsáveis políticos possam ser, de facto, autênticos. E impede, na verdade, que o exercício da política resolva os problemas concretos das pessoas. A minha geração de políticos, na verdade, repete até ao enjoo lugares-comuns. Procura assegurar votos fazendo demagogia.De facto, sem qualquer poder retórico, sem conhecerem o país real, frequentando há tantos anos os corredores dos partidos e, depois, as salas e câmaras e corredores do Poder, não falam para nós, não estão a par do que vive o país real. Há muito que gizaram, em linha recta, a sua vida: das jotas para a universidade, da universidade para a TV, da TV para o poder. Popper tinha razão: na era da “humanidade sentada”, é a política-publicidade que vale e só vence o que vende. É pena que assim seja: a Argentina e o Brasil estão já aqui.
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