quinta-feira, 3 de setembro de 2020

A Verdade Efetiva Dos Factos

 verdade efectiva dos factos construiu a armadilha em que o poder ficou preso e da qual não pode sair por efeito dos calendários constitucionais, eleitorais e orçamentais. É a política que denuncia uma maioria que é estável mas não é coerente, ocupa o poder mas não exerce o poder.

A maioria aritmética de que depende a subsistência deste Governo no Parlamento nunca foi uma maioria coerente, foi sempre uma maioria conveniente desde que, em 2015, foi constituída para repudiar o Memorando de Entendimento negociado com o Fundo Monetário Internacional, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu. 

A crise de 2020, mais intensa e mais destruidora de capital e de emprego do que foi a crise de 2011, torna este paradoxo insustentável. As partes que se somaram para formar a maioria aritmética passaram a considerar inconveniente terem de suportar, ainda que só pela abstenção, as políticas que terão de ser adoptadas para responder à emergência da nova crise - exactamente a mesma estrutura de políticas, agora ainda mais imperativas, que esta
maioria aritmética tinha por fundamentação repudiar.


A aritmética pode estabelecer uma maioria, mas só a coerência do que se soma pode oferecer a estratégia ao poder político - e se um poder político não tem uma estratégia será só uma aritmética de conveniências.

Joaquim Aguiar, JNegócios

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