terça-feira, 1 de dezembro de 2009

No Rescaldo da Cimeira


Nem tudo depende de Portugal, é certo, mas a sucessão de impedimentos ou divergências barrou efectivamente a solução de algumas questões que Portugal gostaria de ter visto resolvidas na cimeira.

Em primeiro lugar, notaram-se as ausências - nunca costumam estar todos os chefes de Estados, mas oito em 22 é mais de um terço. Cada um por sua razão, válidas naturalmente. Mas a não presença dos máximos governantes retira peso ao forum.

Entre elas, claro, a do mediático Hugo Chavez, o Presidente venezuelano. É um caso claro de copo meio cheio, ou meio vazio. Por si só, garante a atenção dos media, mas também poderá ter poupado alguns embaraços ao seus anfitriões portugueses.

Independentemente das razões que terão levado Chavez a não aceitar o convite do seu amigo José Sócrates, não vindo, fez desaparecer da agenda a discussão de um dos temas mais quentes da actualidade latino-americana, o conflito entre a Venezuela e a Colômbia.

Esse debate ficou confinado ao bilateral e, para Sócrates, que teria gostado de ter sentado à mesma mesa os Presidentes desavindos, não restou nada.

Depois, Honduras, transformada na grande questão política desta 19ª Cimeira Ibero-americana.

Os esforços feitos "até ao limite" pela presidência portuguesa da reunião para encontrar uma plataforma mínima comum esbarraram na intransigência de posições sobre a legitimidade ou não das eleições que se realizaram no domingo passado.

Como derradeira solução, restou a alternativa mínima: uma nota da presidência portuguesa da cimeira, reiterando a condenação unânime do golpe e a afirmação (algo cifrada) de que "a restituição do Presidente hondurenho deposto é um passo fundamental para o retorno à normalidade".

Sócrates chamou-lhe "grande êxito", no que foi secundado pela próxima Presidente da Comunidade, a argentina Cristina Kirchner, mas nunca as ínvias formulações diplomáticas suscitaram entusiasmo. Desta vez também não.

E nem se salvou a candidatura de Portugal ao Conselho de Segurança. Em vez de um declarado apoio, uma mais seca manifestação de "satisfação pela candidatura de Portugal e outros países ibero-americanos".

Pois, foi a cimeira do possível. Inovação e Conhecimento era o seu tema, mas se não fossem os documentos oficiais a referi-las, nem disso se falaria.

É caso para perguntar. E será tudo isto um problema de Portugal, ou é da Comunidade?

Luísa Meireles, expresso.pt

Bem que Sócrates como é já habito nestas circunstâncias, sorriu à direita à esquerda, para a frente e ao lado!


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