Só um estado de graça prolongado e um país dividido em duas claques permite olhar para o que se tem passado na Caixa Geral de Depósitos (CGD) como se não estivéssemos num fim de ciclo.
Tanta trapalhada, que começou com uma lista de nomes para a administração de que alguns tiveram de ser apagados e que culmina com o valor dos salários versus o valor da transparência, não é coisa que se recomende.
E, pelo meio, ainda anda esquecida a recapitalização de milhares de milhões.
De igual forma, ganha estatuto de trapalhada geral uma discussão do Orçamento do Estado em que se permite à oposição não discutir documento nenhum mas a falta deles.
E continua no reino da trapalhada um debate sobre pensões e reformas, em que os parceiros da coligação à esquerda estão mais entretidos em marcar as suas diferenças do que em marcar a diferença para o anterior governo.
É evidente que o tempo passa e nada sustenta a tese de que estamos em fim de festa ou em fim de ciclo. Havia mais sinais nesse sentido quando a coligação nasceu do que agora, tal foi a surpresa. A trapalhada geral que temos vivido nos últimos tempos até pode passar a ser um modo de vida, numa geringonça em que o instinto de sobrevivência obriga cada um a puxar para o seu lado, mas revela apenas um grau de cansaço que é sempre superior a quem tem de negociar, de forma permanente, agendas que buscam a popularidade.
É por isso que os tiros nos pés virão sempre com mais frequência dos membros do governo, sujeitos a uma agenda parlamentar que é preciso driblar. Na CGD, por exemplo, alguém consegue perceber qual foi a participação do Bloco e do PCP nesta história? Zero ou pouco mais do que isso! Não vejas, não ouças, não fales e nada de mal que aconteça é tua responsabilidade. Há coisas que se governam em segredo, para bem da coligação e para mal de quem decide.
Paulo Baldaia, DN
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