Façamos só um ponto da situação muito rápido de forma a que se perceba o que vem a seguir: no nosso sistema semipresidencial, até agora de pendor parlamentar, o primeiro-ministro de um partido com maioria absoluta é dono e senhor da governação porque domina o parlamento e cala o Presidente. Reunidas estas condições, não há chefe político com mais poder num Estado democrático. Nem o primeiro-ministro britânico, porque, nesse caso, os deputados que o sustentam são eleitos por círculos uninominais e não em listas fechadas pelos líderes dos partidos. No entanto, caso essa maioria monopartidária não exista e caso o primeiro-ministro esteja debilitado, como está Costa, e o Presidente seja interventivo e popular, como é Marcelo, o pendor parlamentar do sistema, pelo qual Sá Carneiro lutou contra Eanes, pode estar em risco.
É verdade que depois da revisão constitucional de 1982, o Presidente perdeu poderes constitucionais. Essa foi, aliás, a vitória póstuma de Sá Carneiro. Mas não deixa de ser verdadeiro que o Presidente pode, caso tenha preponderância sobre o governo, como parece ser o caso atual, influenciar esse mesmo governo. Marcelo pode bem vir a ser o primeiro Presidente chefe de governo do regime, modificando o sistema político dentro dos limites permitidos pelas regras constitucionais. Assim, é importante que elogiemos a atuação de Marcelo em outubro, mas que não o endeusemos. Como o próprio lembrou, ele é pessoa; uma pessoa que é um político que tem uma ambição e que pode virar o sistema do avesso.
(Excertos do artigo de André Abrantes Amaral, Ji)
1 comentário:
Comparar o poder político do PM em Portugal -que escolhe e nomeia os seus futuros eleitores :-) - com o poder político do PM no Reino Unido -que é eleito PM por políticos em nome próprio- é uma triste anedota.
Comparar a relação política que existe em Portugal entre o PM e o PR com a relação política que existe no RU entre o(a) PM e a Raínha é um desastre cultural. JS
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