Dizem que as eleições se vencem ao centro. Mentira. Em Portugal o centro é quase tudo e ao mesmo tempo é nada, e por isso é que o circo vale mais do que as convicções. Precisa-se muito de ar fresco.
O velho centro – aquele que temos – é um deserto. Ou talvez seja antes um pântano.
Com excepção do voto no PCP, os portugueses não são capazes de fazer grandes distinções ideológicas entre os maiores partidos, por mais estranho que isso possa parecer às elites. Há mesmo estudos que mostram que o eleitorado jovem, urbano e classe média do Bloco é mais “liberal” em alguns temas económicos do que o eleitorado mais rural e idoso do CDS.
Décadas a fio, o que se prometeu nas campanhas eleitorais foi “mais” qualquer coisa: mais estradas, mais hospitais, mais escolas, pensões mais altas, mais empregos, mais Estado Social, agora mais “contas certas”. Sempre houve muito pouca ideologia nestas promessas, sempre se jogou sobretudo com o carisma das lideranças – isto é, dos candidatos a primeiro-ministro – e sua credibilidade para cumprirem as promessas que estavam a fazer.
É assim pelo menos desde Cavaco Silva. E também desde as suas campanhas que um dos motes é o medo: se os outros ganharem, vai-se perder o que já se tem.
Portugal precisa de outro paradigma para poder voltar a sonhar. Para os portugueses voltarem a acreditar que vale mesmo a pena.
Quem pudesse romper dos nossos chochos debates politicos teria como desafio – e como oportunidade – criar um novo centro, radical e reformista. Necessariamente com outros protagonistas, capazes de abrir as janelas para deixar entrar ar fresco. Sem medo. E sem medo que lhes falassem de medo.
Se não for assim, se não sairmos da lógica circense de que os últimos dias foram expoente máximo, andaremos sempre a perseguir a nossa própria cauda, não em busca das melhores políticas, mas atrás dos melhores comediantes.
(Excertos do artigo de JMF, hoje no OBSR)
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