"Governar com a troika é complicado. Sem troika, mas com três instituições no controlo, é complexo."
António Barreto, Diário de Notícias, 13 de Dezembro de 2015
A ANÁLISE... De Joaqim Aguir , J Negócios
De uma troika para a outra tudo mudou em termos de condições de governabilidade - mas não mudaram os problemas, os desequilíbrios e as impossibilidades. Com a primeira troika, os credores estavam interessados em que o devedor pudesse vir a pagar. Era um contexto de reformas: abandonar o impossível, concentrar no possível. Com a segunda troika, o objectivo é a reposição do que teve de ser abandonado para se restabelecer os equilíbrios orçamentais e da balança corrente, ignorando o que se provou ser possível para voltar a apostar no que é impossível. O que implica que o objectivo já não seja pagar aos credores, mas sim provar, pela via dos factos consumados, que não se pode pagar. É um contexto paradoxal, ao mesmo tempo conservador e revolucionário: repetir o que foi impossível no passado tantas vezes quantas as necessárias para que seja possível no futuro.
Não é difícil antecipar o resultado que se vai obter no futuro a curto prazo. A condição de governabilidade da nova troika assenta numa fórmula impossível: uma votação de 10% permite atingir uma influência de decisão superior a 50%. Esta condição de governabilidade só pode existir no vazio, onde não haja problemas a resolver porque tudo é imaginário, onde não haja culpa nem responsabilidade porque a República democrática se transformou no Reino do desejo, onde não haja estratégia de modernização porque tudo passou a ser retórica distributiva.
A passagem da primeira troika para a segunda troika é uma troca desigual e assimétrica, porque a dotação de recursos, financeiros e analíticos, da primeira não tem comparação com o que está ao alcance da segunda. Trata-se, então, de preparar os planos para a reconstrução, que terá de se iniciar logo que apareça a evidência do impossível - porque o vazio não é o mundo real.
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