Acaba uma era na sua e na nossa história.
A Europa da paz e do acolhimento de estrangeiros. A Europa de braços abertos a todos os refugiados do mundo, de direita ou de esquerda, religiosos ou pagãos, homens ou mulheres.
A Europa que se queria distinguir pela generosidade, pela cultura e pela diversidade. A Europa onde era possível a uma mulher sair sozinha à noite ou um bando de jovens passear sem ser incomodado.
A Europa onde se procuravam museus em sossego, concertos em alegria, festivais em despreocupação e peregrinações em paz.
Uma Europa que deixava as suas filhas percorrer os caminhos-de-ferro em tranquilidade. Uma Europa onde um casal de idosos podia sair à rua sem cuidados especiais. Uma Europa onde quem queria se deslocava, viajava e passeava sem ser revistado, vigiado, registado, filmado, escutado e seguido.
Uma Europa que, apesar de duas guerras e mal-grado o Holocausto e o Gulag, sonhava com liberdade e cultura para todos. Uma Europa que, décadas atrás de décadas, não desistia de procurar a liberdade e construir a democracia. Uma Europa em que o Estado de direito, não obstante erros e desastres, se afirmava. Uma Europa onde cada vez mais as leis eram ditadas pela razão e pelo povo soberano e cada vez menos pela fortuna, pela força ou por deus. Uma Europa onde finalmente se respeitavam todas as religiões e nenhuma exercia o império da intolerância.
Esta Europa, sonho, projecto, história ou esperança, desaparece. Financiado por poderosos, protegido por Estados maléficos e apoiado por organizações legais,
Excertos do artigo 'Elegia para a Europa', António Barreto, DN
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