quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A Polémica Sobre Os Rendimentos Dos Novos Administradores Da CGD Pode Pôr Em Risco O Complexo Processo Da Recapitalização Do Banco




Há várias pessoas que não estão a perceber este risco. Ou melhor, há muitas pessoas em Portugal que não estão a perceber que o Mundo mudou, a Europa mudou e as regras europeias de resolução dos bancos mudaram drasticamente. O Estado pode continuar a ser accionista mas as regras de concorrência e de resolução dos bancos já são outras e já não há distinção entre bancos públicos e privados.


Com toda a clareza, sem rodeios, importa lembrar que em Março deste ano o Governo detectou enormes necessidades de capital na CGD, por causa do sucessivo reconhecimento de imparidades por créditos concedidos ao longo de vários anos e por causa da desvalorização de activos, como imobiliário dado em garantia ou recuperado em execução, registados nas suas contas.

Ao problema económico da crescente falta de dinheiro para funcionar como banco, juntou-se o problema regulatório: a Caixa chumbou nos testes de stresse feitos pelo BCE. Se continuasse como estava, a esta hora a CGD já teria sido submetida a um processo de resolução bancária.

Repito, por estar no regime de ajudas de Estado (concedidas em 2012 no valor de 1650 milhões de euros) se não fosse feito nada, a CGD já teria sido submetida a um processo de resolução através de bail-in com mobilização dos depósitos mais elevados.
Sim, a expressão de anglo-economês bail-in significa que nesse processo de resolução, com vista à recapitalização forçada, já teriam sido mobilizadas a posição accionista do próprio accionista Estado; a dívida da Caixa a outros bancos; a dívida subordinada (detida por muitos milhares de empresas e famílias portuguesas); e a parte dos depósitos dos clientes acima de 100 mil euros (detida por muitos milhares de empresas e famílias portuguesas, residentes, emigrantes e eventualmente estrangeiros); isto para além da obrigação de privatização futura do banco.

Consegue-se assim imaginar facilmente o que aconteceria à confiança dos depositantes na Caixa e nos outros bancos portugueses, se o banco do Estado já tivesse sido submetido a um processo de resolução pelas regras das ajudas de Estado, certo?

Por ter visto este risco em Março, Mário Centeno (que já fez vários erros, mas este não é seguramente um deles), decidiu pedir ajuda a quem sabe. (continuar a ler)

José Gomes Ferreira , SIC notícias 

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