Por um lado, o governo fechou um negócio com sindicatos e patrões sem ter a força para o fazer. Não tinha o apoio de partido nenhum na Assembleia da República e nem sequer abordou o PSD para tentar uma saída qualquer, por inesperada e exótica que ela fosse. Por outro lado, de repente parece que a concertação social passou a ser o alfa e o ómega da democracia portuguesa, o sítio onde tudo o que é de relevante acontece, onde tudo se decide, deixando os restos à Assembleia da República, isto é, o papel de cenário virtual ou centro de dia para os deputados trocarem umas generalidades.
Tudo isto é muito esquisito, mas é-o ainda mais porque António Costa é primeiro-ministro por uma só razão: ele perdeu nas urnas, não conseguiu os votos de que precisava, mas ganhou legitimamente no Parlamento o apoio indispensável. Portanto, desvalorizar a Assembleia da República é não apenas arriscado e imprudente mas também politicamente incompreensível perante o contexto deste governo. No entanto, por duas vezes em menos de um mês o primeiro-ministro tentou um arranjinho à margem do centro da democracia e por duas vezes falhou desgraçadamente - e ainda bem.(continuar a ler)
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