quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Fomos Surpreendidos. Como É Que Nunca Nos Tínhamos Lembrado Dos "Erros De Percepção mútuos"?

Ainda estou surpreendido. Como é que nunca nos tínhamos lembrado dos “erros de percepção mútuos”? O jeito que nos tinha dado a todos o conceito em tantas e infelizmente tão variadas circunstâncias da vida… “Desculpa lá, foi um erro de percepção mútuo, às vezes acontece.” Os incómodos, até as humilhações, de que teríamos, assim tão simplesmente, com tão breves palavras, escapado…

Mas tudo tem a sua razão de ser. O que é verdade é que os saberes de que dispomos, nomeadamente a filosofia, não ajudam. Inexistem, como agora se diz, no capítulo. A
filosofia fala da mentira pura e simples, da má-fé, da mentira interior, da mentira orgânica, e de outras coisas assim. Mas, pela minha parte, juro que durante a vida inteira não encontrei uma só linhinha, nem numa nota de rodapé, sobre “erros de percepção mútuos”, essa espécie de desarmonia pré-estabelecida cuja existência agora nos foi revelada.

Dei-me até ao trabalho de telefonar a pessoas especialistas destas coisas: nunca tinham ouvido falar. Imperdoável. Talvez em tratados de psiquiatria?
(..)

Sem dúvida que o ministro Mário Centeno e o seu mentor António Costa terão ainda tempo para oferecer versões mais sofisticadas desta sua fundamental contribuição para o entendimento da sociedade. O céu é o limite. Para já, encontramo-nos todos agradecidos e esperançosos. Até porque a teoria, mesmo na sua presente forma imperfeita, cola à realidade. Os erros de percepção mútuos não relevam da psicologia: são um facto social. Não inexistem. O Governo encarrega-se de no-lo mostrar regularmente.

Fonte:Paulo Tunhas, OBSR

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