Pelo menos os principais "meios" de decisão pública, anda a dar caça a tudo o que ressuma independência de espírito. Seja essa independência de ordem pessoal, institucional ou, desejavelmente, as duas. A diferença para o que se passou entre 1974 e 1975 é que, nessa altura, o PS campeava pelas liberdades públicas contra o que tinha acabado (a Ditadura) e contra o que podia ter começado (um "frentismo popular" liderado pelo PC e pela extrema-esquerda militar). O PC, ironicamente, conseguiu agora o que o fez abandonar, no Verão precário de 1975, uma coisa chamada "frente de unidade revolucionária", a FUR: juntar o PS àquilo a que sempre apelidou de "forças democráticas e progressistas". E, mais do que juntar o PS, tê-lo na mão (e à mão) a liderar um governo apoiado pelos herdeiros da FUR. Os sinais adensaram-se nas últimas semanas com os conluios "cesaristas" contra o governador (independente) do Banco de Portugal, contra o Conselho de Finanças Públicas (independente), contra as comissões parlamentares de inquérito incómodas para o poder e contra a opinião livre. Tudo é imediatamente conotado com a "Direita" e, em momentos de pulhice bloquista, com a "extrema-direita". O presidente da República, pela primeira vez no regime e muito satisfeito, parece estar mais com uns do que com outros quando o sistema constitucional em vigor o presume presidente de todos.
Excerto do artigo de João Gonçalves, 'Esta Portugalidade nova que nos pastoreia', JN
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