No mundo em que vivemos a política, aspirante a gerir as pessoas e os recursos, depende muito da emoção. Porventura mais do que outrora.
A emoção explica mais do que em qualquer outro tempo a força do carisma, a legitimação da autoridade e a credibilização dos argumentos.
Ninguém tem tempo nem estofo nem capacidade para analisar, ajuizar e concluir sobre as milhares de questões técnicas, especializadas e complexas que a política gere e decide. Ninguém compreende os discursos e os debates a não ser pela clareza e pela convicção. E pela emoção de estar vinculado. E pela confiança que a relação emocional gera nos governados. Confia-se pela relação emotiva que se estabelece tacitamente com quem nos governa e nos guia. Acredita-se pela fidúcia de que o Estado e as suas ramificações estão concentrados no preenchimento das funções que nos possibilitam e garantem um modo de vida e uma gravidade de segurança.
Pois bem. Mais do que qualquer outro no passado recente, o poder que Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa implementaram funda-se justamente nessa linha transversal – ligar o país emocionalmente à sua presença e à sua conduta. De “afeto” e de “otimismo”.
Digerir uma tragédia como a de Pedrógão Grande é o grande teste desde poder bifronte. Nada será como antes.
A estratégia de comunicação “controladora” falhou, pois partiu para o terreno com premissas falsas ou desconhecidas e terrivelmente desmentidas pelas horas seguintes de horror e colapso. Neste mundo em que vivemos, a verdade, se diferente da “realidade”, vira-se sempre contra os mensageiros. E a verdade era de grande violência, convenhamos. Verdade feita de morte dolorosa, que é vivida com grande impacto coletivo, com maior ou menor dimensão. Esta foi nacional. Perdura. Arrasta-se no encontrar de respostas. Afunda-se nas incertezas e nas contradições.
Pela primeira vez, o cordão emocional de Marcelo e Costa com os portugueses falhou. Com estrondo. É a partir daqui que vamos partir para a segunda fase deste poder.
Excertos do artigo de Ricardo Costa, Ji
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