Se houve razões políticas para apagar o racismo do carácter nacional, também as há agora para, num exagero inverso, o transformar no traço definidor da sociedade portuguesa, numa cópia atamancada das polémicas americanas. Mas por mais anedótica que esta racialização de Portugal pareça, faz sentido para este governo e para os seus aliados. Não se trata apenas de transformar a oposição numa Frente Nacional muito conveniente para justificar a frente social-comunista. O governo e a sua maioria têm trabalhado para segmentar Portugal. Temos assim os que, no sector público, recuperam rendimentos, contra os que, no sector privado, não recuperam. Ou os que, por mercê do governo, não pagam impostos directos, contra os que pagam. Pela mesma lógica, teremos agora as “minorias étnicas”, defendidas pela estima governamental, contra a maioria racista.
O objectivo nunca é garantir direitos iguais para todos, mas criar grupos de identidade com rendimentos e estatutos dependentes do Estado, e portanto potencialmente fiéis àqueles que, na política, reclamam zelar pelos seus interesses particulares. No caso das “minorias étnicas”, este é o melhor caminho para dificultar a sua integração e inspirar preconceitos. Mas também para garantir a sua vulnerabilidade e, logo, a sua dependência, que é o que importa à oligarquia no poder.
(excerto do artigo ' a racialização de Portugal', Rui Ramos, OBSR
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