Se fosse uma personagem de ficção, o dr. Costa seria exagerado e o seu autor arrasado pela crítica. Ninguém acreditaria em criatura tão primária e paródica. O dialecto é demasiado pobre. O oportunismo é demasiado infantil. O provincianismo é demasiado caricatural. O descaramento é demasiado forçado. A ambição é demasiado brutal. A manha é demasiado ostensiva. O ridículo é demasiado evidente. A perversidade é demasiado tosca. O estilo é demasiado repulsivo. A boçalidade é demasiado boçal. A desumanidade é demasiada, ponto. Tudo no dr. Costa, das roupas aos risos e dos truques às palavras (digamos), se confunde com um boneco, ou o estereótipo superficial de um político grotesco.
O dr. Costa, em suma, é mau demais para ser mentira. Infelizmente, como estamos em Portugal, é péssimo o suficiente para ser verdade. E a crítica da especialidade, que alucinadamente começou por atribuir ao homem inconcebíveis virtudes, ainda não terminou de venerá-lo – apenas conteve a veneração durante a semana, já que, parecendo que não, cento e tal mortos sempre impõem algum recato.
(excertos do artigo de Alberto Gonçalves, OBSR)
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