É tão estranho! Depois de quarenta anos de democracia e de cinquenta e oito eleições, os portugueses continuam a ser tratados como analfabetos, mentalmente débeis, fúteis e facilmente manipuláveis. Na véspera de uma eleição não se pode escrever, ler, discutir ou debater política directa ou indirectamente relacionada com a matéria em causa. Quer isto dizer, tudo! No dia da eleição, domingo, ainda menos se pode debater até às 20.00 horas.
As regras que regulam a comunicação, especialmente televisiva, e que se propõem preservar o pluralismo, quando, no essencial, servem para proteger os partidos estabelecidos e controlar os limites da expressão, são um contributo valioso para o colete-de-forças democrático.
Depois destas eleições, a vida continua. A Terra anda à volta do Sol. O maior escândalo financeiro da história de Portugal, o caso BES/GES e companhia, continua à espera. O maior assalto político ao poder das últimas décadas, o caso Sócrates, espera por avanço. O mais grave acidente de segurança nacional do último século, o caso de Tancos, aguarda esclarecimento. O mais dramático acidente nacional (e, no grupo de incêndios florestais, um dos maiores do mundo), o caso de Pedrógão e vizinhanças, permanece na obscuridade da ocultação deliberada. Estes são os casos que nos esperam. A que estas eleições não respondem nem tinham que responder. Mas cujos resultados vão talvez ajudar a resolver ou, pelo contrário, contribuir para enterrar.
(excertos do artigo de António Barreto, hoje no DN)
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