Há uma estranheza. Um vento desconhecido. Um inconforto que se confunde com vergonha. Uma colecção de irresponsabilidades políticas, desmazelos estatais, actos de irracionalidade. É uma sensação pouco definível mesmo para quem lida com as palavras. Que vento é este que sopra?
- O país parece capturado pela sua própria incapacidade de travar a roda da irracionalidade. (...)
- É como se estivéssemos diante de um escaparate onde se misturam comportamentos insólitos, propósitos irresponsáveis, gestos disfuncionais .(...)
- O balanço é malsão: de um lado, quem interessa e quem conta para o trio político que diz governar-nos; do outro, um país deixado de fora das prioridades, das escolhas e das atenções do terceto político em causa. (...)
- Começam a ser inquietantes as “descobertas” de algumas decisões obscuras da governação. Como a última conhecida e não desmentida, assinada pelo futuro ou ex-futuro líder do Eurogrupo (tão depressa Centeno vai como não vai, processo bizarro, que se ressuscita ou se enterra conforme é conveniente puxar ou não pelos galões do sempre risonho titular das Finanças). Rezam porém as notícias que Centeno guardou a sete chaves os milhões deixados por Paulo Macedo para modernizar o IPO, preferindo para eles destino eleitoralmente mais propício et pour cause. -me para que cativas, dir-te-ei quem és, e deste adágio não se livra o ministro, tão eloquente ele é (o adágio). (...) Os prejuízos estão já aliás devidamente contabilizados. Só não são maiores ainda porque para matar a fome de despesa da esquerda radical, justamente se “cativa”. Cativa-se em detrimento de prioridades sérias e escolhas imperativas como seria cuidar do IPO. Cativa-se porque facilita a vida, cativa-se para financiar a colecção de exigências de um acordo político ruinoso.
O pior não é “isto”.Não é haver muito país afogado em selfies e afectos, celebrando a geringonça e os seus feitos , festejando quase com lágrimas de felicidade a dupla Costa/Marcelo tão “culta”, “aberta”, “simpática”, “próxima”. É lá com eles (e com os filhos que pagarão a conta dos feitos e afectos). O que me confunde é o tão espesso silêncio do que sobra do mundo que não cabe nesse país.
(Tópicos do artigo de Maria João Avillez no OBSR - leiam e meditem)
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