O que é a coisa? A coisa é aquele excipiente que leva a que num determinado momento tudo se inverta, passando os réus a vítimas. Os crimes hediondos a factos irrelevantes quando não a cabalas.
A coisa primeiro estranha-se. Depois entranha-se. A coisa acontece quando a pertença política dos investigados se sobrepõe ao julgamento sobre a natureza dos seus actos. Hoje todos se chocam com o pacto de silêncio que no passado envolveu os crimes sexuais praticados pelo clero católico. Ninguém via nada? Porque se calavam todos? Porque os criminosos eram padres. Curiosamente essa lição do passado não impede a presente berraria que acompanha os arguidos que politicamente vêm do campo da esquerda e do progressismo. Os argumentários para justificar o injustificável são vários, passando inevitavelmente pelas acusações de perseguição, pelo dogma da amizade pelos pobres (entendendo-se geralmente a dita amizade por tornar os pobres subsidiodependentes) ou pelo “espírito avançado” do protagonista.
Em Portugal, a coisa começou em 2003. Ou melhor dizendo há quinze anos a coisa tornou-se óbvia: em 2003, Portugal confrontava-se com o escândalo Casa Pia. A revelação sobre os abusos sexuais sofridos por dezenas de crianças internadas naquela instituição causou inicialmente um enorme sobressalto.(continuar a ler)
A judicialização da política só acontece (e de facto ela está a acontecer) porque por cumplicidade, cobardia, desleixo ou desistência entregámos aos tribunais o que devia ser o nosso papel: dizer não aos políticos. A partir do momento em que deixamos de dizer não aos políticos transferimos poder para os tribunais. E aos tribunais não se diz não nem sim. Cumpre-se.
Fonte: OBSR
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