Os engenhosos contemplados com a oportunidade de sugar duplamente os cofres do Estado recebem um apoio financeiro semanal que se destina a cobrir o valor das tarifas dos voos entre Lisboa e as duas regiões autónomas. Auferem desta vantagem, ainda que não façam qualquer viagem. Como este último ponto parece não ser suficiente motivo de satisfação, ainda aproveitam a generosidade do subsídio social de mobilidade para se ressarcirem de despesas que já estão cobertas pelo orçamento da Assembleia da República.
Depois de tudo somado, fica à vista um inovador esquema que, à custa dos contribuintes, supera a mais delirante imaginação de um qualquer criador de projectos sem custos para o utilizador, expressão que em Portugal se transformou em sinónimo de dívida exorbitante e carga fiscal digna de países nórdicos com serviços subfinanciados e em rápida degradação.
É tudo legal? Curiosamente, é. Mas é, também, de uma ética “irrepreensível”, de acordo com um dos protagonistas da miserável história, nada menos do que o presidente do PS e do respectivo grupo parlamentar. A exibição de arrogância e de sentimento de impunidade, que caracterizou a reacção de Carlos César à divulgação pública do estratagema de que é militante, é um sinal de que dá por adquirida a inesgotável paciência dos eleitores e contribuintes, bem como a complacência da corporação em que se integra, onde não faltam os telhados de vidro que desaconselham manifestações de desconforto estrepitosas.
É provável que o pior que Carlos César aguarde é a indiferença anódina de um encolher de ombros, acompanhado do desabafo inconsequente de que “eles são todos iguais".
(Excertos do artigo de João Cândido da Silva no OBSR)
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