Mudanças no modo e no ritmo de vida estão exigindo uma reconstrução da visão tradicional que tem sobre a divisão da vida humana em períodos segundo a idade.
Segundo as pesquisadoras, aqueles que atingem a idade que os define como adultos estão preservando sinais de infantilismo. E, defendem elas, esse infantilismo está a tornar-se uma norma, não uma exceção.
O que é ser criança e o que é ser adulto
De um ponto de vista psicológico, a idade adulta implica autorregulação, maturidade emocional (racionalidade, autocontrole, falta de impulsividade etc.), responsabilidade, capacidade de autorreflexão e necessidade de trabalhar e ter relações estáveis, com os adultos lutando pelo sucesso em suas profissões e na vida familiar.
Alguns psicólogos enfatizam a importância do impulso de afiliação e realização: É importante que uma pessoa defina sua posição civil e social, seu estilo de vida etc.
De acordo com Sabelnikova e Khmeleva, a personalidade infantil, ao contrário, é caracterizada por sentimentos imaturos (reações "infantis", falta de força de vontade, falta de confiança), locus externo de controle (outras pessoas são culpadas), autoconceito inflado, baixas demandas sobre si mesmo (acompanhadas de altas demandas à sociedade) e egocentrismo.
"Uma pessoa infantil procura escapar da necessidade de avaliar adequadamente a realidade social objetiva," escrevem as duas pesquisadoras em seu artigo publicado na revista Education & Society.
Em outras palavras, a maturidade está associada ao domínio bem-sucedido de papéis sociais chave: profissional, conjugal e parental.
Fatores de infantilidade
Ocorre que um número cada vez maior de pessoas está a atrasar essas escolhas típicas da maturidade e valorizando-as de forma diferente.
Muitos especialistas defendem que retardar a vida adulta é uma resposta a uma nova realidade: Tudo está mudando, do conjunto de competências e empregos (alguns deles estão desaparecendo enquanto outros estão surgindo ou evoluindo) até os relacionamentos.
Novas maneiras de viver foram descobertas, modelos alternativos da idade adulta evoluíram, o curso de vida das pessoas tornou-se menos previsível. Por exemplo, as pessoas obtêm um diploma, trabalham, mas depois voltam novamente a estudar e mudam de profissão. Elas podem deixar a casa dos seus pais, mas depois voltam e prolongam sua "infância".
Mas isso frequentemente tem efeitos colaterais sérios, como uma gama de oportunidades de vida ampla demais, o que se torna desorientador e dificulta novas escolhas, fazendo com que a pessoa nunca se defina e nunca escolha um caminho: ela se torna infantilizada, defendem as pesquisadoras.
Legitimação do infantilismo
Alguns psicólogos e sociólogos argumentam que a idade adulta não é mais um valor incondicional. "A imagem contraditória do futuro ... assusta um jovem e encoraja-o a permanecer na infância, onde não havia problemas e a vida era estável e segura," escrevem Sabelnikova e Khmeleva. Neste caso, ressaltam, o infantilismo é quase uma escolha consciente.
As duas pesquisadoras acreditam, no entanto, que o infantilismo não deve ser julgado. Até certo ponto, ele pode ser considerado um sinal da diversidade temporal no desenvolvimento pessoal. O famoso psicólogo Lev Vygotsky escreveu sobre processos similares há quase um século.
"O caminho da personalidade para a maturidade não é homogéneo por tipo," defendem Sabelnikov e Khmeleva. Devido à diversidade do tempo, nas pessoas infantis a área emocional e de força de vontade "fica aquém das taxas gerais de desenvolvimento, e a inteligência e a cognição se desenvolvem mais rápido do que a média nesse período."
A "legitimação" do infantilismo também pode estar relacionada à sua avaliação como mecanismo protetor, uma maneira de superar as dificuldades da vida. Nancy McWilliams, uma psicanalista dos EUA, já enfatizou que o termo "personalidade infantil" está desaparecendo da lista oficial de condições clínicas, o que parece se alinhar com os argumentos das duas pesquisadores - em termos modernos, a personalidade infantilizada seria apenas um caminho de vida alternativo.
Fonte: DS
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