Sabe, Senhor PM, que o SNS já não tem capacidade de resposta para todos os portugueses?! Que o seu património genético já não é o que era e que não foi por acaso que o Dr. António Arnaut e o Dr. João Semedo deram como título ao seu último livro “Salvar o SNS”. Que estão a aumentar de forma assustadora as desigualdades sociais em saúde. Que o acesso aos cuidados de saúde, em tempo clinicamente aceitável, está cada vez mais dependente do código postal e não só. Que as regiões mais periféricas e mais desfavorecidas estão cada vez mais carentes. Que a perda de jovens altamente diferenciados continua a aumentar. Que as agressões, a síndrome de burnout, o desalento, a desmotivação, o desrespeito, a idade avançada e as desistências diárias do SNS ou abandono da profissão são problemas reais que atingem os profissionais de saúde.
Provavelmente, não estará bem informado sobre o que está a acontecer na Saúde no Algarve, Alentejo, Setúbal, Lisboa, Santarém, Leiria, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Viseu, Aveiro, Porto, Braga, Vila Real, Viana do Castelo, Bragança, Açores e Madeira. Não saberá que mais de 800.000 portugueses não têm médico de família atribuído. Que muitos hospitais estão sob uma pressão de tal forma brutal que ultrapassa o limite do aceitável, “à beira de um ataque de nervos”, como nos foi revelado pelo relatório da Primavera 2018 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde. Que os cuidados paliativos continuam a não chegar à imensa maioria dos portugueses. Que nos serviços de urgência perduram condições deploráveis. Que a falta crítica de capital humano, de equipamentos adequados, de dispositivos e materiais clínicos, de infraestruturas que dignifiquem os doentes e os profissionais de saúde, é desesperante.
Miguel Guimarães, Bastonário da Ordem dos Médicos, Expresso
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