Nunca o divórcio entre o mundo das ideias e o mundo real parece ter sido tão grande. A excepção, é claro, encontra-se na extrema-esquerda parlamentar, mas essa, coitada, não ousa, por razões compreensíveis, dizer o seu nome, contribuindo assim para a indistinção geral. O resto vive numa espécie de caldo turvo em que as diferenças apenas se manifestam pela prática de certos rituais específicos, sobrevivências destinadas a perpetuar a memória confusa de totens tribais em cuja eficácia ninguém já verdadeiramente acredita ou sequer efectivamente compreende.
Algum debate ideológico parece, portanto, desejável, fora dos círculos restritos da gente que por prazer ou dever profissional a ele se dedica. Mas como esperar uma coisa dessas das mediocridades que ocupam os lugares cimeiros da nossa cena política? Dos “afectos” de Marcelo? Da “habilidade” de Costa? Da “seriedade” de Rio? Mais vale esperar pela atribuição de todos os prémios Nobel, no mesmo ano, a ditosos filhos da pátria lusitana. Tudo acompanhado, é claro, por feitos incomensuráveis da nossa selecção e de todos os “grandes” do futebol nacional. Por outras palavras: decidirmos em grupo entrar gentilmente na boa noite de uma mansa loucura.
Solução? Esperar que esta gente se vá embora e que apareçam (ou avancem) nos partidos indivíduos dotados de uma convicção ou outra e que discutam entre si, com alguma racionalidade, caminhos diversos para a nossa sociedade.
(Excertos do artigo de Paulo Tunha, OBSR)
Sem comentários:
Enviar um comentário