A propósito de um incidente no bairro da Jamaica. Depois de uma repulsiva exibição de virtude dos políticos e dos comentadores, e de um insólito acto de striptease do primeiro-ministro, chegou-se à conclusão que a direita estava com a polícia e a esquerda com as vítimas.
Parece que ninguém olhou bem para o vídeo. Perguntas: qual foi exactamente o pedido de socorro que a polícia recebeu? Por que razão decidiu mandar uma carrinha com meia dúzia de agentes para o bairro da Jamaica? Qual era a missão? A força era suficiente para a missão, caso ela existisse? Há ou não há procedimentos estabelecidos para situações como esta? Quem comandava no terreno, se é que havia um comando no terreno? Como se explica a desordem do grupo de intervenção que, a julgar pelo vídeo, andava disperso pelas ruas a bater em negros ou a correr atrás deles sem nenhum objectivo perceptível?
Bem sei o que a polícia responderia: não tem “meios”, nem “condições”. De facto o Estado paga mal, não investe em equipamento, nem toma a sério as carreiras da profissão. Este Governo manifestamente abandonou a PSP a favor de outras partes do funcionalismo que rendem mais votos. Em última análise, o que aconteceu foi isto: cinco ou seis polícias sem direcção e sem ordem, abandonados num meio hostil, reagiram com a brutalidade da indisciplina e do acaso.
Vasco Pulido Valente, Público
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