«Enfim, é assim que vamos votar, como o homem do dia da marmota ia para a cama: com a suspeita de que, quando o despertador tocar na manhã seguinte, o dia vai ser igual ao de hoje. O que há para ver já vimos.»
As modestas expectativas de António Costa levantam a mesma dúvida. Foi este duche frio na ideia da maioria absoluta uma maneira de António Costa admitir que a austeridade apenas trocou de máscara, o crescimento económico é fraco, os equilíbrios do orçamento são efémeros, a função pública exige mais, e pode bem ser que o castelo de cartas não aguente até Outubro?
Ou, em alternativa, o problema nem é tanto a maioria absoluta estar fora do seu alcance, mas não lhe dar jeito nenhum?
A maioria absoluta, para um governo, não é só uma maior liberdade de acção. É também uma fixação das responsabilidades, sem as desculpas do apoio parlamentar. E é, acima de tudo, a falta de pretexto para uma manobra à 2001, isto é, a fuga antes de a tempestade chegar. Foi evadindo responsabilidades que o grupo de amigos de que Costa é agora o chefe governou durante a maior parte dos últimos vinte e cinco anos, colonizou o Estado e a partir daí quase todos os bancos e grandes empresas.
Perante as incertezas dos próximos tempos, a geringonça é uma porta de saída muito conveniente.
Rui Rio vai voltar a querer acordos com o PS depois das eleições, e António Costa vai querer voltar à geringonça. Com tais líderes políticos, não veremos nada de novo nos próximos anos.
Rui Ramos, OBSR
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