Democracia E O Exercício Desses Direitos Não São A Mesma Coisa
«As pessoas da minha geração, que apanharam os efeitos imediatos do 25 de Abril na sua infância, foram criadas no ambiente em que um conjunto de direitos passaram a existir. O direito de manifestação, o direito à opinião, o direito de associação, entre outros, foram todas conquistas da revolução ou, pelo menos, gostamos de pensar que sim. De tal forma foram importantes essas conquistas que, na nossa cabeça, passámos a confundir o exercício desses direitos com democracia. Isso acontece-nos todos os dias. A coincidência de várias ocorrências leva-nos a assumir a sua equivalência, mas democracia e o exercício desses direitos não são a mesma coisa.»
João Pires da Cruz, OBSR
Não é de todo verdade que o povo seja relevante nas escolhas do país. E por isso, já hoje metade dos portugueses não perdem, nem um dia de praia, nem um dia de shopping com a patroa, para irem dizer uma coisa que ninguém vai ouvir. Os políticos nacionais (e não só), antes de qualquer eleição e qual orquestra do Titanic, repetem à exaustão o discurso contra a abstenção metendo a culpa na praia, no jogo do Benfica, na chuva, no jogo do Sporting, em tudo quanto não possam controlar, menos naquilo que é óbvio. As pessoas votam quando isso interessa para alguma coisa. Se não interessa, não votam.
À medida que os anos passam, a própria importância da República vai sendo esmagada. Aquilo que nos afeta diretamente é tratado pelas autarquias, enquanto aquilo que é lei e grandes linhas estratégicas é cada vez mais emanado de Bruxelas. Aos poucos, a importância do governo de Lisboa ficará reduzida àquilo que é ineficaz a nível nacional, como é hoje a educação que devia baixar às autarquias ou a justiça que devia subir a Bruxelas, e à corretagem de fundos europeus. Aos poucos, o valor da República será questionado e no dia em que estiver de facto em causa, aquela que é a metade que já não vota vai-se fazer ouvir nesse dia. E não é complicado perceber de que lado vai estar.
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