Não podemos queixar-nos de um logro, na medida em que, desde cedo, os partidos, sobretudo os mais representativos, assumiram que o sufrágio de domingo era o prefácio das legislativas de outubro. E que, por isso, a agenda sobre a Europa seria um apêndice da agenda sobre Portugal. Mas depois não se admirem (e muito menos se queixem) se a abstenção roçar os 70%.
A exceção tem sido, curiosamente, o que vamos distinguindo de construtivo nas intervenções de partidos mais pequenos como o Livre, o PAN, o Iniciativa Liberal e o Aliança. Circunstância que pode ter uma razão simples de explicar, para lá da qualidade dos candidatos: quem não depende tanto da televisão para produzir soundbites ou bandas sonoras em arruadas tem de agarrar-se às ideias e aos programas, recorrendo a outras ferramentas para cultivar ascendente social. Donde avulta a inquietação: o que seria dos partidos de massas se, de repente, as suas ações de campanha deixassem de ter cobertura televisiva? Os portugueses não iam notar muito. Mas para eles seria trágico. Paulo ataca Pedro, Pedro ataca Nuno. Sem circo sobrava o quê?
Paulo ataca Pedro, Pedro ataca Nuno, Marisa vitupera Paulo, João ignora Pedro e Nuno condena Marisa.
Pedro Ivo Carvalho, JN
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