terça-feira, 16 de julho de 2019

Esta É A Única Forma De Responder A Uma Proposta De Quotas Étnicas

Cada ser humano, cada pessoa, guarda em si uma individualidade irrepetível, uma maravilhosa confluência de aspirações e impressões - tão irrepetível que não é possível rotulá-la, coletivizá-la, sob pena de a amputarmos de boa parte da sua natureza.
Essa irrepetibilidade funda os valores da liberdade e da igualdade: a liberdade de ser e viver de acordo com a nossa vontade, sem que essa vontade nos faça merecedores de tratamento especial. É porque somos todos igualmente diferentes que partilhamos todos da mesma liberdade e da mesma dignidade máxima - para os crentes, é isso que nos faz filhos de Deus, iguais nas nossas diferenças.


Isto bastaria para vigorosamente afastar a ideia das quotas étnicas, como aliás para rebater as políticas identitárias que afastam a liberdade e a igualdade do centro político para lá colocarem a identidade (isto para não falar de outras questões práticas: como se averiguaria, num mundo felizmente tão miscigenado, o grau de pertença a uma etnia, como se hierarquizariam as pessoas, como se lidaria com as subdivisões até ao infinito das catalogações?).


Cada ser humano é merecedor da dignidade total e máxima pelo simples facto de ser pessoa, e deve ter, por ser pessoa, livre e igual, a oportunidade de lutar pelo seu projeto de felicidade. Essa é a única forma que tenho de responder a uma proposta de quotas étnicas, sendo para mim intolerável responder-lhe com qualquer argumento que presuma, de forma simétrica, a coletivização e a generalização, como se o nosso mundo, e o debate político, pudesse aceitar que o indivíduo fosse substituído pelo grupo onde políticos ou terceiros o querem integrar.


Adolfo Mesquita Nunes, DN

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