... Não É O Da Emoção
Debates públicos como o que sucedeu após a descoberta de um recém-nascido no lixo devem muito à emoção e pouco à razão.
A conversa esteve em todo o lado e a primeira vaga de reacções foi a do horror, a de questionar que gente era aquela que abandonara à sua sorte um ser indefeso, salvo, por ironia, por alguém que tinha tudo para ser protegido em vez de ser protector. Seguiu-se a vaga da compreensão.
A resposta do Supremo Tribunal de Justiça, anteontem, e uma reportagem da SIC com os sem-abrigo que realmente tinham encontrado o recém-nascido vieram mostrar como este tipo de debates públicos deve muito à emoção e pouco à razão. Pelo caminho, sacrificam-se os mediadores e o tempo de que necessitam para tentar chegar à verdade, neste caso, a Justiça e a imprensa, mesmo que esta tenha forte tendência para se auto-imolar.
Quando um Presidente nomeia alguém, perante as câmaras, como “o nosso herói”, é bom que não o faça quando foi enganado por alguém que parece não ter tido grande papel na descoberta do recém-nascido, antes ter sabido aproveitar-se do momento. A palavra do Presidente importa e a verdade também. E para que uma e outra sejam ponderadas e consistentes, precisam de um tempo de resposta que não coincide com a vertigem das redes sociais nem com a velocidade das notícias na Internet ou nas televisões.
David Pontes, Público (excertos do Editorial)
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