A grande falência das belas utopias totalitaristas advém precisamente da desindividualização, da dissolução da pessoa no todo, da desvalorização completa da ética pessoal trocada pelos falsos consensos da harmonização e do igualitarismo. A sociedade paradoxalmente desaparece quando desaparecem os indivíduos e passa a haver só sociedade.
Os sinais que recebemos de todo o lado são de confusão, de standardização das preocupações, sobretudo dos medos. Unimo-nos no receio, no que devemos evitar. Deixamos de olhar para o nosso próprio futuro, seguimos o canto do apocalipse comunitário. Deixamo-nos absorver de corpo e alma na matéria esponjosa do medo.
E ficamos vulneráveis ao mal. A esse mal que tantos já cantaram vir mais da ignorância e do conformismo que de um qualquer pecado ou falha primordial. Ao mal do bom cidadão que pacatamente ia para o seu trabalho, abria as torneiras de gás, e voltava de boa consciência para beijar os seus amados filhos no final do dia, com o sentido de simplesmente ter feito o seu trabalho. Como todos os ‘outros’ também faziam.
Nada mata como a falta de esperança, a perda de sentido.
(excertos do texto de Pedro Moura, hoje no Ji)
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