A forma de vida em esforço que se impôs nesta nossa era está fundamentalmente errada e se não for mudada, e nos conformarmos ao ressentimento de a suportar, é bom que nos preparemos para a corrosão dos valores da democracia, da autonomia e da emancipação.
Enquanto ainda nos for permitido o tempo para pensar e não apenas reagir e consumir, por esta ordem ou a inversa, não será abusivo concluir que está tudo ligado: primeiro, que esta voragem que se exprime em consumo tecnológico e catástrofe ambiental é também a principal causa social do populismo, da democracia em perda e do mal-viver humano nesta nossa era; segundo, que os usos da tecnologia e o design digital das nossas existências cada vez mais desmaterializadas não são menos consequência deste estado de coisas do que o populismo e a crise da democracia com que nos debatemos. E por isso podem e devem ser discutidos, perguntando como recuperar neles um regime temporal mais brando, capaz de não reagir apenas, mas de incorporar motivos para um agir humano genuíno, que traz consigo sempre um movimento de transformação, em vez de intransigência ansiosa e intolerância que repele.
André Barata, JE
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