É esta a história do trágico desconfinamento português. Uma vontade imensa de liberdade e os piores sinais possíveis dados pelo Estado e por quem o representa.
Costa e Marcelo abriram a porta sem cuidar que a seguir havia a probabilidade de um abismo. A embriaguez de um milagre português, que nunca existiu, trouxe o pior dos nossos governantes à superfície.
Se na gestão do estado emergência, fizeram um esforço sério para imitar Merkel e Frederiksen, na abertura confundiram-se com Trump e Bolsonaro, deixando vir ao de cima um populismo incompatível com a crise em curso.
Se o primeiro-ministro e o Presidente vão para uma raia lotada, toda a gente reforça a convicção de que está tudo bem. Se manifestações políticas são permitidas, as coisas não são tão más quanto se pintam. Se as curvas comunicadas parecem descer, assumem-se como planas. Se a mensagem de quem representa o Estado é de sucesso na batalha, de vitória e até de milagre, quem é o homem sedento de liberdade que a põe em causa?
Sim estamos mal, muitíssimo pior do que seria de esperar no fim do estado de emergência que tanto nos custou. Sim, a grande responsabilidade política é de António Costa, do seu Governo, de Marcelo Rebelo de Sousa e de todos os políticos que, através de manifestações, ajuntamentos e festas, enviam o pior sinal possível à sociedade. A oposição que não se deixou enredar nesta leviandade, não só já não se encontra presa ao pacto de colaboração responsável do confinamento, como tem o dever estrito de criticar, condenar e contrariar estes comportamentos.
Os exemplos vêm quase sempre de cima, se os empossados e outros não estão à altura de os dar, que assuma a dignidade quem a soube conservar.
(Excertos do texto de Raúl de Almeida, JE)
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