Em Portugal, há muita gente interessada nas presidenciais norte-americanas. (...) É bom querermos saber o que acontece no mundo e termos posição sobre o que se passa noutros países, mas também seria bom se as preocupações sobre as presidenciais se estendessem igualmente a Portugal, onde as mesmas irão decorrer dentro de poucos meses.
Marcelo Rebelo de Sousa continua a manter o tabu sobre a sua recandidatura, mas a coisa arrisca-se a ser a piada mais gasta de todas pelo caminho que as coisas levam. A decisão de não falar do assunto não é um segredo bem guardado: é uma atitude calculada para evitar que o debate se centre já, nestes próximos meses, no que tem sido a presidência de Marcelo, no que tem feito como Presidente, para além dos afectos.
O tabu, que não é inédito, teve em Cavaco um expoente, e é uma arma cínica usada em demasia na política portuguesa. E o tabu tem geralmente como função querer controlar o calendário de debate, para que seja o mais curto possível. Marcelo Rebelo de Sousa, que tem uma vantagem esmagadora nos estudos de opinião, não está interessado em que apareçam mais pessoas a apontar que o rei vai nu, mostrando o que correu menos bem. E, se olharmos com detalhe, muitas coisas correram mal - desde as suas primeiras reacções à tragédia de Pedrógão até às hesitações na abordagem à pandemia e aos efeitos de um desconfinamento mal executado, passando pelo permanente jogo de cumplicidades com António Costa.
Se ninguém quer um foco de desestabilização em Belém, também depois deste mandato há quem pense que ficamos vacinados para um permanente baile de máscaras com São Bento num jogo de ilusões e seduções. Vamos passar anos terríveis para conseguir sair com o mínimo de dores da situação caótica - económica, social e psicológica - criada pela pandemia. O que precisamos é de alguém que ajude a encontrar um caminho, que o torne desígnio nacional, que vigie a sua execução. O objectivo não pode ser remendar, tem de ser o de criar as bases para desenvolver. Vamos querer que Belém continue a ser um cenário de "selfies" ou que se torne num posto de vigilância com autoridade?
Manuel Falcão, J Negócios
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