quinta-feira, 29 de outubro de 2020

A Apatia De Um Povo É O Seguro De Vida De Quem Dele Se Aproveita

 Durante os últimos 20 anos, os portugueses habituaram-se a viver com pouco crescimento económico e pouco rendimento (tivemos um crescimento médio de 1% ao ano, descontado o efeito da inflação) e temos ficado cada vez mais na cauda da Europa. Tudo isto se tem passado perante um povo que impávido e sereno, vai aguentando um, outro e outro anúncio, geralmente um pequeno aumento dado como se de uma migalha se tratasse e geralmente em cima das eleições.

Segundo um estudo da OCDE de 2018 [1], estima-se que em Portugal sejam necessárias cinco gerações para que alguém nascido numa família de rendimento baixo ascenda a um rendimento médio. Cinco! 

A apatia de um povo é o seguro de vida de quem dele se aproveita, de quem vive de uma democracia frágil e de um país sem mecanismos de controlo e sem uma sociedade civil ativa e exigente. O estado letárgico em que vivemos cauciona os conflitos de interesse, a raiva desorientada e descarregada nas caixas de comentários apenas fortalece o atual estado de coisas. Uma imprensa sedada e sem independência política ou partidária é ela própria uma ameaça à democracia.

Se há uns anos ficou célebre a ideia de vivermos em claustrofobia democrática, hoje vivemos numa democracia sedada e asfixiada, incapaz de se libertar e com uma imprensa apática e acrítica.

A política devia ser sinónimo de esperança, de mudança positiva e fundamentalmente devia servir para garantir que os cidadãos podem, pela sua dedicação e trabalho, serem capazes de progredir e construir a vida que ambicionam. Precisamos de ser, coletivamente, mais exigentes com quem decide o nosso futuro coletivo.

(Excertos do texto de Lídia Pereira, hoje no ECO)

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