sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Contas Polémicas

 O primeiro sinal de corrupção numa sociedade é defender que os fins justificam os meios.
(Georges Bernanos)
  
 Contas polémicas

Foi com perplexidade que li que Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Rio indicaram, em sintonia com António Costa, o nome de José Tavares para Presidente do Tribunal de Contas. O facto de ele, enquanto quadro dirigente dessa instituição, poder ter auxiliado o Governo Sócrates a contornar as regras existentes no Tribunal cria, no entanto, uma dúvida: quem aceitou validar o nome de José Tavares não sabia dessa situação, ou sabia e decidiu que não era relevante? Nenhuma das situações abona em favor dos intervenientes. 

Parece que Marcelo Rebelo de Sousa se transformou de encantador de serpentes em engolidor de sapos.
 
De Rio, pouco se espera e já nos habituou a fazer jeitos a Costa. Percebemos agora que o Presidente, refém do receio de uma crise política, dá jeitos de contorcionista para evitar problemas antes das próximas presidenciais. 

Claro que no meio disto fica por esclarecer como é que o perfil de José Tavares se enquadra no critério que o próprio Marcelo definiu em declarações públicas como necessário para o sucessor de Vítor Caldeira: "exatamente com o mesmo grau de exigência no combate a conluios, compadrios e corrupções" que o anterior Presidente. 

Vítor Caldeira não era um burocrata de uma instituição: esteve por três mandatos à frente do Tribunal de Contas Europeu e, no seu mandato no Tribunal de Contas português, não hesitou em confrontar membros do Governo e autarcas, colocando reservas às suas actuações, o que lhe valeu críticas públicas de diversos membros destacados do PS. A razão da sua não recondução tem que ver com isso e não com outras questões.
 
A secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, já veio alertar para o facto de um escrutínio muito apertado da aplicação dos fundos poder inviabilizar a sua aplicação prática. Está tudo dito, não está? A não recondução dos incómodos passou a ser o procedimento. Quem se mete com o PS, leva – esse velho lema acaba de ter mais uma confirmação prática. Com a conivência deste Presidente da República.

Manuel Falcão, J Negócios 

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