domingo, 8 de novembro de 2020

É Curioso ...


É curioso: um governo da República pode ser escorado pelo PCP e pelo Bloco, mas um governo dos Açores não deve poder formar-se pela abstenção ou voto a favor do Chega.

Além de terem sido uma outra lição de como a cidadania tem capacidade de avaliar e optar, os Açores remetem-nos para a realidade próxima, sendo que ainda mantêm a possibilidade de comprovarmos a desonestidade da extrema-esquerda nacional. Vejam-se as várias declarações (não faço publicidade a nomes) em que se alerta para o enorme escândalo que seria um governo de direita na região, viabilizado pelo Chega.

Ou seja, para os nossos tradicionais revolucionários, reciclados de antigos totalitarismos, e aos quais se têm juntado alguns pseudointelectuais sedentos de aceitação pública em setores diversos, contumazes do abaixo-assinado, ainda há votos de primeira e de segunda – os seus e os dos outros.

Um governo da República pode ser escorado pelo PCP e pelo Bloco, que pensam o que pensam da Europa, do euro e da NATO, da propriedade e do papel do Estado, e há 40 anos cederam o cimento ideológico para o sequestro dos deputados na Assembleia da República. Mas um governo da região autónoma dos Açores não deve, hoje, formar-se pela abstenção ou voto a favor de um partido de extrema-direita, com um programa a condizer e que não é suspeito de atentar contra qualquer artigo da Constituição da República que tem todo o direito a querer rever.

Esta intolerância, de resto, é estúpida. Se muitos portugueses estão a fazer quartel-general no Chega isso muito se deve ao facto de outros partidos, anestesiados pela proximidade ao poder e às modas fraturantes, se mostrarem surdos aos anseios de uma vida mais segura nas ruas de Portugal e a um verdadeiro combate à corrupção. São esses partidos que fazem crescer o Chega. E ainda não sabemos quanto.

(excertos do texto de João Marcelino, JE )

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