«O Governo limitou-se a aplicar a cura que lhe restava, a usar a arma na qual podemos depositar alguma crença, a considerar sem alternativa o mal menor.»
(Manuel Carvalho, Público)
No anúncio das medidas para o novo estado de emergência, o primeiro-ministro largou um desabafo que desvenda um sinal dos tempos. “E aqui estou, a dar a cara, sem vergonha de voltar onde estávamos em Abril passado”, admitiu António Costa. Nas entrelinhas da declaração há de tudo: fadiga, fatalismo, sinais de impotência ou de derrota, consciência de que num momento excepcionalmente grave como o que o país vive não há lugar para promessas definitivas, compromissos absolutos ou estratégias à prova de bala. Afinal, o Governo, que perante os surtos do Verão ou do Outono recusou firme e hirto um novo confinamento geral, foi forçado a confinar tudo e todos.
Não havia alternativa – excepto, talvez, para os que acreditam na possibilidade de enfrentar uma pandemia assim sem usar os recursos excepcionais da Constituição, para os que acreditam que erros do Governo no Natal exigem uma punição severa que exclui a marcha-atrás, para os niilistas das redes sociais que dizem que tudo está mal e que o seu contrário está péssimo. O Governo limitou-se a aplicar a cura que lhe restava, a usar a arma na qual podemos depositar alguma crença, a considerar sem alternativa o mal menor. Por muito do que foi feito até hoje tivesse sido mal feito, agora, quando a mortalidade revolta e o número de contágios assusta, não havia nada a fazer senão voltar “onde estávamos em Abril”. Com um lamento, por certo, mas sem vergonha. ( continuar a ler)
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