Superou-se a barreira dos 10 mil infectados num único dia; e abundaram as notícias sobre o congestionamento de vários hospitais do SNS e os alertas sobre o perigo iminente de ruptura em serviços de internamento ou nos cuidados intensivos. Ainda não temos todos os dados capazes de explicar a explosão no número de contágios (estará a nova variante do coronavírus espalhada pela população?), mas é fácil constatar que acabou o ligeiro estado de graça alimentado com a esperança da vacina. E regressou com naturalidade o azedo debate sobre uma eventual lassidão do estado de emergência decretado para o Natal.
Que os portugueses são irresponsáveis e só reagem ao perigo sob o lema da emergência ou da coacção. Mas, se esta discussão é inevitável, evite-se contaminá-la com argumentos motivados pelo desalento, pela revolta com um inferno que não nos larga ou pelo ressentimento que tende a considerar que neste contexto de pandemia tudo se resolve ou tudo se compromete com as decisões do Governo e das autoridades. Não é assim ou, ao menos, não é exactamente assim.
Numa pandemia, a origem dos problemas está sempre na natureza dos vírus. Mais importante por isso do que distribuir culpas, é reunir energia para o que nos espera. E o que nos espera é muito provavelmente o pior momento da pandemia. Vai ser preciso muita coragem, resistência, confiança, solidariedade, união e nervos de aço para o vencer.
(excertos do texto de Manuel Carvalho no Público)
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