Fecha-se por medo, abre-se por cansaço. O País está reduzido a esta pobreza fracturada, a esta dicotomia entre o medo e o cansaço que invade os espíritos como um impulso animal. O Presidente da República está do lado do confinamento, o Governo faz um silêncio que soa a funeral, mais parece ter sido submetido a uma terapia de choque em função de uma variação política do stress pós-traumático. Quanto aos portugueses, estes não querem perceber que o sentido das coisas é um edifício frágil, construído a partir de farrapos científicos, memórias de outras histórias, artigos de jornal, megapixels na televisão, pequenas vitórias, pessoas odiadas, pessoas amadas.
Carlos Marques de Almeida, ECO
O passado é observado com uma distância entre o irónico e o cínico, enquanto o futuro é sempre observado como a agregação racional das vontades individuais atomizadas. A pandemia acaba por funcionar como um veículo imprevisível que começa a fazer deslocar as sociedades no sentido das planícies políticas desconhecidas. Modernos, pós-modernos, nacionais, globais, o ferry em que viajamos parece não ter instalado o necessário GPS político, nem os drones exploratórios nos devolvem imagens nítidas daquilo que se aproxima. Deixe-se ficar em casa. O Inferno são os outros.
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