Aos numerosos erros de governo e gestão dos desígnios da nação seguem-se (por enquanto) fugazes e fracas justificações, e, por inerência, quem as diligentemente propague. A accountability ou prestação de contas no sentido da aceitação da responsabilidade pelas ações tomadas, é que é cada vez menor. A pedra angular da democracia moderna, a “responsabilidade política”, vive dias complicados. Só nos últimos anos, entre mega-incêndios com um número de vítimas a ultrapassar a centena, armas desaparecidas (e, entretanto, reaparecidas), o caso do procurador e do seu CV à lá carte, o infeliz ucraniano Ihor, e, mais recentemente, – ainda que fora do Governo, mas (quase sempre) na sua esfera política – o caso da delação (até ver sem prémio) da CM de Lisboa, ocorreram um robusto rol de disparates, ao qual se seguiu um óbvio e infeliz deserto de consequências políticas. Se errar é humano, persistir no erro sem dele tirar qualquer ilação ou consequência é, para nosso mal nos tempos que correm, um desígnio de quem nos governa ou preside.
Acredito que no futuro estes nossos tempos serão analisados sob a mesma lupa do “seria tão simples ter mudado”. Temos muito menos desculpas do quem nos antecedeu, dado o acesso a informação sem precedentes na história, saibamos procurar, filtrar e agir criticamente sobre os resultados. É a tragédia de um povo que se vai repetindo, amarrado a uma triste sina de periferia e indigência por meia dúzia de promessas ocas e vãs que se vão renovando. E o derradeiro golpe, que não andará muito longe, será quando perceberem que para nos manterem com o cabresto nem precisam de prometer nada.
(excertos do texto de Tiago Almeida Pinto, OBSR)
Sem comentários:
Enviar um comentário