domingo, 22 de agosto de 2021

O Dilema Após Vinte Anos De Presença Do Ocidente Na Sociedade Afegã

Após vinte anos de presença do Ocidente, o que deve ser sublinhado e reforçado é que o estatuto das mulheres é o melhor marcador para o progresso da sociedade afegã. O que deve ser reforçado e sublinhado é a coragem das mulheres face à ameaça do Islão Fundamentalista. O que deve ser enaltecido é o papel das mulheres na construção de uma fábrica social mais coesa, com maiores índices de participação e de igualdade, no fundo as bases invisíveis de uma nova sociedade asfixiada pelos timings políticos e pela pulverização tribal. O futuro do Afeganistão está nesta legião silenciosa que absorveu as lições da liberdade e da democracia.

Neste ponto surge um paradoxo e um dilema. Abandonar estas mulheres ao arbítrio Islâmico é um crime intragável. Retirar estas mulheres da sociedade afegã é condenar o país a cem anos de solidão e a cem quilómetros de cemitérios.

O Ocidente recorre então à religião humanitária para salvação dos seus erros políticos, estratégicos, militares. Entre o caos do aeroporto e o caos da história recente, o propósito é então o de estabelecer uma ponte aérea que liga o Inferno Islâmico ao Paraíso Ocidental, o Paraíso imperfeito em que se julga possível receber milhares de refugiados e com esse gesto proteger as consciências pesadas perturbadas com os gritos de Kabul em convulsão nas bocas secas com o pó das ruas.   Carlos Marques de Almeida, ECO

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