quarta-feira, 6 de abril de 2022

Nota Ao Acaso


O poeta superior diz o que efectivamente sente. 
O poeta médio diz o que decide sentir. 
O poeta inferior diz o que julga que deve sentir. 

Nada disto tem que ver com a sinceridade. Em primeiro lugar, ninguém sabe o que verdadeiramente sente: é possível sentirmos alívio com a morte de alguém querido, e julgar que estamos sentindo pena, porque é isso que se deve sentir nessas ocasiões. A maioria da gente sente convencionalmente, embora com a maior sinceridade humana; o que não sente é com qualquer espécie ou grau de sinceridade intelectual, e essa é que importa no poeta. Tanto assim é que não creio que haja, em toda a já longa história da Poesia, mais que uns quatro ou cinco poetas, que disessem o que verdadeiramente, e não só efectivamente, sentiam.

Álvaro de Campos, (Textos de Crítica e de Intervenção . Fernando Pessoa)

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