O jogo orçamental é uma invenção do presidente da república. Foi ele, em 2021, quem decidiu que haveria eleições sempre que um orçamento não fosse aprovado. O jogo tem dois pressupostos. O primeiro é que um orçamento de Estado está acima das divergências políticas, e pode e deve ser viabilizado por partidos que querem coisas diferentes. (...)
Basta que se “entendam”. O segundo pressuposto é que os eleitores não gostam de votar muitas vezes, e castigarão em novas eleições quem delas passar por responsável. Posto isto, o jogo consiste em cada jogador tentar endossar aos outros a culpa por não haver entendimento orçamental. É um jogo que faz esquecer opções políticas, e concentra a atenção no jeito ou sorte dos concorrentes. Convida ao psicodrama e à manipulação. É a política ao nível do reality show, à medida das televisões. (...)
O Chega concentra agora em si, como uma espécie de para-raios, a demonização de que a esquerda é capaz, que os socialistas reconheceram que o PSD, por contraste, não é bem de direita, é até uma espécie de meio-irmão. O Chega poderia ter servido ao PSD para formar uma maioria reformista. Serve-lhe em vez disso para consolidar uma maioria situacionista. (...)Tratava-se de saber se os. socialistas iriam descobrir como sair daqui. Não descobriram, como Pedro Nuno Santos confirmou ontem. Vão, portanto, deixar governar Luís Montenegro. Ainda não sabemos se o PSD conseguirá mesmo “cumprir o seu ideal”. (...)
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