Chega e media: uma simbiose perfeita - Enquanto os meios de comunicação persistirem em tratar a política como um produto mediático e os populistas como actores de um drama rentável, a erosão do debate público continuará a aprofundar-se. (Jorge Fernandes,OBSR)A dinâmica actual, entre uns media em crescente agonia de receitas e de audiências, especialmente com a concorrência das redes sociais, e uma direita radical com necessidade de palco não oferece margem para dúvidas. Existe uma relação simbiótica entre estes dois actores que é benéfica e proveitosa para ambos. Os partidos de direita radical foram um bálsamo para televisões, cujo modelo de negócio já não assenta em notícias propriamente ditas, até porque fazer bom jornalismo é caro, mas em colocar comentadores e políticos em estúdio.
O jogo é simples. Os partidos de direita radical ganham cobertura mediática e legitimidade. As televisões produzem conteúdos com audiências que, mais tarde, fazem furor nas redes sociais. Aqui, não há inocentes. Sob a alçada de uma pretensa indignicação – com o Chega a queixar-se de ser atacado e as televisões a queixarem-se do comportamento inaceitável dos seus convidados – ambas as partes ganham. Todos nós, os moderados democratas, assim como a salubridade do debate político, perdemos.
Enquanto os meios de comunicação persistirem em tratar a política como um produto mediático e os populistas como actores de um drama rentável, a erosão do debate público continuará a aprofundar-se. E, nesse processo, quem verdadeiramente perde é a democracia.

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