A ansiedade, um mecanismo concebido para nos proteger, se transforma em algo que nos aprisiona. A nossa mente, permanentemente em modo de alerta, passa a identificar como ameaças os próprios conteúdos internos — as emoções, sensações e pensamentos. E parece que quanto mais tentamos fugir destas experiências, mais se intensificam e nos roubam liberdade.
Algo que nos exige uma mudança de paradigma: abandonar a ideia de que o bem-estar é a ausência de dor, reconhecendo que a instabilidade, o desconforto e o sofrimento são o par perfeito de uma vida plena.
Um dos principais gatilhos da ansiedade é precisamente a ausência de segurança. A mente ansiosa cria realidades inteiras a partir de hipóteses e o corpo responde como se fossem factos reais.
Ao cultivar a capacidade de observar pensamentos e emoções sem lhes reagir automaticamente, começamos a desenvolver tolerância ao desconforto — uma competência cada vez mais rara, mas essencial e que me foi muito útil no processo pessoal de lidar com a ansiedade (sim, um psiquiatra também sofre).
Uma sociedade capaz de dialogar com o medo, de escutar o outro, de criar espaços de pausa e reflexão num mundo que vive em aceleração constante, será uma sociedade menos doente e e mais reconciliada com a vulnerabilidade que nos torna humanos.

Sem comentários:
Enviar um comentário