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quinta-feira, 6 de novembro de 2025

A Frase (244)

A epidemia do nosso tempo não é de ansiedade, é de intolerância ao sofrimento. Não se trata apenas de um processo patológico, mas o reflexo de uma cultura que esqueceu que sentir também é viver.    (João Perestrelo, OBSR)

A ansiedade, um mecanismo concebido para nos proteger, se transforma em algo que nos aprisiona. A nossa mente, permanentemente em modo de alerta, passa a identificar como ameaças os próprios conteúdos internos — as emoções, sensações e pensamentos. E parece que quanto mais tentamos fugir destas experiências, mais se intensificam e nos roubam liberdade.

Um dos principais gatilhos da ansiedade é precisamente a ausência de segurança. A mente ansiosa cria realidades inteiras a partir de hipóteses e o corpo responde como se fossem factos reais.

Ao cultivar a capacidade de observar pensamentos e emoções sem lhes reagir automaticamente, começamos a desenvolver tolerância ao desconforto — uma competência cada vez mais rara, mas essencial e que me foi muito útil no processo pessoal de lidar com a ansiedade (sim, um psiquiatra também sofre).

Uma sociedade capaz de dialogar com o medo, de escutar o outro, de criar espaços de pausa e reflexão num mundo que vive em aceleração constante, será uma sociedade menos doente e e mais reconciliada com a vulnerabilidade que nos torna humanos.

Algo que nos exige uma mudança de paradigma: abandonar a ideia de que o bem-estar é a ausência de dor, reconhecendo que a instabilidade, o desconforto e o sofrimento são o par perfeito de uma vida plena.

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