
A dificuldade está num dos grandes legados de Sócrates aos seus correligionários: a teoria da “narrativa”. (...)
A “narrativa”, para aqueles que pretendem passar por gente de esquerda, tornou-se uma questão de identidade. Quem não repetir a “narrativa”, não é do PS, não é de esquerda, ou está a ceder, por debilidade ou inconsciência, a uma coisa que se chama “ideologia da direita”, e que corresponde mais ou menos a toda a informação que não condiz com os interesses de António Costa e dos seus aliados.
(...)
É este o ambiente em que António Costa só pode falar da diminuição ou do aumento do número de colocados no ensino superior do modo como falou. Como qualquer general em campanha, não lhe é permitido dizer nada que não seja abençoar os seus, ou demonizar o inimigo. Tudo o mais seria trair a causa, render-se à direita.
Dir-me-ão: mas esta “narrativa”, de tão patusca, não convence. Pois não: a manipulação, quando é demasiado evidente, nunca produziu convicção, mas sobretudo desconfiança e cinismo. Como poderia ser de outra maneira, se passa uma bicicleta, e o governo diz que foi um camião? Mas o poder, ao contrário do que por vezes se diz, nunca precisou de convicções: basta-lhe o conformismo.
Excertos do artigo de Rui Ramos no OBSR
Sem comentários:
Enviar um comentário