As divergências tornaram-se maiores, entre regimes como os do norte, que na viragem do século se adaptaram para competir globalmente, e regimes como os do sul, em que nada disso aconteceu.
A união monetária, em vez de propiciar mudanças, tem financiado o seu adiamento, antes e depois da “crise do euro”.
A UE tornou-se assim o perverso caldo de cultura das demagogias mais cínicas. Catarina Martins pode servir de exemplo: exige a saída portuguesa da moeda única – para defender o que chama “Estado social”, quando sabe muito bem que o abandono do euro, com a desordem e a inflação decorrentes, significaria rapidamente o colapso venezuelano do seu “Estado social”. Então porque quer sair? Porque Martins, tal como Jerónimo de Sousa, também sabe que esta Europa dificilmente comportará projectos de sociedade, como os deles, sugeridos por uma ou outra fase da ditadura soviética. E era isso que importava que a UE tornasse ainda mais manifesto, como já foi no passado.
Hoje, a UE é um albergue espanhol em que cabem regimes bancarroteiros, como o do Syriza na Grécia, ou autoritários, como o do Fidesz na Hungria. Mas o problema não está apenas na oportunidade dada a parasitas e a provocadores. Está na ambiguidade do sistema, que alimenta todas as indecisões e artimanhas, como as daqueles que renegam a UE, enquanto se aproveitam dela. A integração europeia, se quer continuar a ter um sentido, tem de deixar de ser uma simples ginástica tecnocrática, para constituir novamente uma opção política sobre modos de vida. Precisa de um pouco menos de Eurostat e de bastante mais de filosofia.
Excertos do artigo de Rui Ramos, OBSR
Sem comentários:
Enviar um comentário