Pedir desculpa em Portugal é só para os culpados, e portanto é visto como admitir culpa. Por isso, os nossos sábios políticos nunca pedem desculpa. Mas pedir desculpa, como Theresa May fez, não é reconhecer culpas: é reconhecer responsabilidades.
O fogo não foi posto pelo presidente da república nem pelo primeiro-ministro. Mas foi sob a presidência de um e o governo de outro que a tragédia aconteceu. Quem estava à frente do Estado, tem responsabilidade, mesmo quando não tem culpa. Pedir desculpa às vítimas, às suas famílias e às suas comunidades em nome do Estado seria assumir essa responsabilidade, seria dizer: estamos aqui para vos proteger, não conseguimos, vamos perceber porquê, mas desde já pedimos-vos desculpa.
O Estado fracassou em Portugal nas suas funções mais básicas. Agora, não podemos passar da tragédia à farsa. Todos sabemos que os inquéritos, como todos os inquéritos, não vão apurar nada. Todos sabemos que novas leis feitas à pressa, como todas as leis apressadas, não vão mudar nada. O reconhecimento da responsabilidade constituiria talvez, dados os precedentes, a única mudança possível: pela primeira vez na sua história, o Estado em Portugal reconheceria não ter estado à altura da confiança que os cidadãos tinham depositado nele. Para isso, claro, seria preciso coragem.
Haverá essa coragem? Sr. Presidente? Sr. Primeiro-Ministro? Vão ter coragem de pedir desculpa, em nome do Estado, pelas vidas perdidas, pelas famílias destruídas, pelas comunidades atormentadas enquanto os senhores ocupavam os primeiros lugares do Estado?
Fonte: Rui Ramos,'Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, peçam desculpa !'
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